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23 fevereiro, 2015

Educação para o Desenvolvimento Sustentável (EDS)






É uma educação destinada a preparar o futuro. Ela pretende nos tornar capazes de enfrentar os principais desafios da atualidade: a proteção ao meio ambiente, o respeito pela biodiversidade e a defesa dos direitos humanos.

Há pouco mais de 20 anos, a Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento lançava um apelo para que fosse adotado um "modo de desenvolvimento suscetível de responder às necessidades do presente sem comprometer a capacidade de resposta das gerações futuras diante de seus próprios problemas". Assim, encontrava-se resumida a essência do desenvolvimento sustentável: uma visão de longo prazo que nos incentiva a assumir nossas responsabilidades no presente e, ao mesmo tempo, no futuro.
A EDUCAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL (EDS) FAZ SOBRESSAÍREM AS NOÇÕES DE PAZ, IGUALDADE E RESPEITO PELOS OUTROS, ASSIM COMO PELOS AMBIENTES NATURAL E SOCIAL
Essa tomada de consciência levou uma boa parte dos Estados membros a adotar, em 2000, os oito Objetivos do Milênio para o Desenvolvimento, que visam erradicar a pobreza extrema e a fome, melhorar a saúde da mãe e da criança, combater o HIV e a Aids, concretizar o ensino primário para todos, promover a igualdade entre os sexos e garantir um meio ambiente sustentável. Ora, estamos convencidos de que, sem o apoio da educação, nenhum desses objetivos será alcançado; por isso, em 2005, procedeu-se ao lançamento da Década das Nações Unidas para a Educação em favor do Desenvolvimento Sustentável (DEDS).

A EDS é uma proposta que busca preparar os estudantes das mais variadas latitudes para os grandes desafios contemporâneos, integrando as dimensões social, econômica, ambiental e cultural do desenvolvimento.

As bases para salvar o Yang-tse

Apesar de fornecer 40% dos cereais produzidos na China, 33% do algodão, 48% dos peixes de água doce e 40% da produção industrial do país, a bacia do rio Yang-tse também concentra 60% da poluição nacional, o que a torna, segundo o Instituto Shangri-la para Comunidades Sustentáveis (Sisc), a primeira fonte individual de poluição do Pacífico. Um projeto de avaliação das águas da bacia, monitorado pelo Sisc em parceria com o Ministério da Educação chinês e a Unesco, mobilizou em 2008 mais de 50 mil alunos nas 27 escolas primárias e secundárias de Sichuan (uma das províncias cortadas pelo rio) e das vizinhas Qinghai e Yunnan, assim como em Xangai, megalópole ao sul do estuário do Yang-tse.

Sob orientação dos professores, as crianças analisaram pela primeira vez na vida a qualidade da água. Resultado: índices de poluição alarmantes em vários pontos dessa região. Em reação a isso, alunos de Piankou (Sichuan) escreveram às autoridades municipais para propor uma gestão "mais científica" das 15 lixeiras das duas grandes artérias dessa cidade de 6.600 habitantes e a criação de um serviço moderno de coleta de lixo. Para surpresa geral, a prefeitura não só apoiou as propostas como também considerou a possibilidade de construir uma usina de tratamento das águas usadas, a fim de preservar o ecossistema. Os alunos distribuíram então um questionário à população sobre as medidas antipoluentes, que foram apoiadas por 89% dos moradores. 
"Esse projeto lançou as bases de um plano de saneamento da bacia do Yang-tse, permitindo também que, em parte, os alunos se livrassem do peso dos exames", comemora Fu Zhiping, professor de ecologia na Escola Normal Superior de Mianyang (Sichuan).
O novo modelo de educação torna os estudantes conscientes de sua interdependência em relação aos outros seres e à natureza.

Efetivamente, a EDS reorienta o aprendizado em vários níveis: em primeiro lugar, exige uma abordagem interdisciplinar, integrando as dimensões social, ambiental, econômica e cultural do desenvolvimento, assim como levando-nos a tomar consciência de nossa interdependência em relação às outras pessoas, ao mundo circundante e à natureza. Desse modo, ela pretende nos tornar capazes de enfrentar desafios da atua lidade, tais como proteção ao meio ambiente, respeito pela biodiversidade e defesa dos direitos humanos. Ela facilita, também, o desenvolvimento tanto do pensamento crítico quanto da capacidade de decisão e de resolução de problemas, ao mesmo tempo que incentiva o diálogo, o trabalho em equipe e o espírito de iniciativa. Por último - e este é, sem dúvida, o aspecto mais importante -, ela faz sobressaírem as noções de paz, igualdade e respeito pelos outros, assim como pelos ambientes natural e social. Em outras palavras, ela visa nos dar autonomia com a oferta de conhecimentos, competências e valores que façam de nós verdadeiros agentes da mudança.



A Conferência Mundial da Unesco sobre a Educação em Favor do Desenvolvimento Sustentável, realizada em Bonn (Alemanha), de 31 de março a 2 de abril deste ano, mostrou que numerosos países já implementaram quadros estratégicos inovadores em favor da EDS. A Década incentivou os países a repensar os objetivos da educação, os conteúdos dos programas escolares e as práticas pedagógicas em complementaridade com os esforços despendidos para realizar o Educação para Todos (EPT).

A Década tem engendrado uma série de iniciativas e de projetos que colocam em prática o EDS tanto no âmbito escolar quanto no extraescolar. Apesar disso, os progressos permanecem desiguais e devemos perseverar na sensibilização do público em geral. Hoje, devemos juntar nossas energias para que a EDS seja estabelecida como linha diretriz que permita melhorar a pertinência e a qualidade da educação graças ao compromisso de dirigentes políticos, de estabelecimentos de formação dos docentes, de universidades e de outros importantes parceiros. Devemos, igualmente, tirar proveito de todas as oportunidades para insistir sobre a centralidade da EDS.

A pedagogia das lonas verdes na Bolívia

A Bolívia possui uma das mais elevadas taxas de desmatamento do planeta. Uma intensa migração interna, direcionada para as terras férteis das planícies, e a ausência do tema meio ambiente no programa escolar boliviano são fortes obstáculos ao desenvolvimento sustentável. A fim de sensibilizar as populações para esse problema, a sucursal boliviana da organização Conservação Internacional (CI) promove uma pedagogia alternativa, baseada em atividades lúdicas.

Sob grandes toldos verdes, crianças com idades entre 6 e 11 anos veem espetáculos de marionetes e participam de jogos sobre a poluição e o meio ambiente, enquanto adultos observam exposições de cartazes sobre o tema. À noite, peças de teatro são encenadas nesses locais por jovens da comunidade, com base em textos escritos por eles próprios a partir de sugestões dos professores do programa. Lançado em 2000, o programa Lonas Verdes envolve 20 toldos, que já visitaram mais de cem comunidades indígenas situadas em regiões de grande biodiversidade. Promovido e administrado pela CI Bolívia e pela Associação Boliviana para a Conservação (Trópico), dispõe, para cada comunidade, de 15 pessoas - agrônomos, biólogos, guardas-florestais, professores e especialistas em comunicação -, na maioria voluntários. O projeto recebe uma verba anual de US$ 30 mil e é financiado pela Agência Norte-Americana para o Desenvolvimento Internacional (Said) e pelo Serviço Nacional dos Parques Protegidos (Sernap). 
"São os alunos, professores e guardas-florestais da região que decidem os mitos, as histórias e os desenhos a serem usados nos materiais educativos", afirma Eduardo Forno, diretor da CI Bolívia e iniciador do projeto. "Em seguida, antes de serem distribuídos nas escolas, os jogos são fabricados na cidade por carpinteiros e artistas. A adequação do conteúdo é controlada por especialistas."
A crise financeira e econômica nos induz a aplicá- la sem mais tardar. Não conseguiremos reduzir a pobreza e construir sociedades mais equitativas, duradouras e focalizadas na paz se não dotarmos os indivíduos, em todas as épocas da vida, com conhecimentos, competências e valores que lhes permitam informar-se e tomar decisões de maneira responsável. Uma educação de qualidade que facilite a tomada de consciência, a abertura, a solidariedade e a responsabilidade deve fazer parte de qualquer resposta à atual crise mundial.

A mobilização de alunos, professores, escolas e comunidades para enfrentar os desafios sociais e ambientais constitui o primeiro passo para superá-los. Mas, acima de tudo, é necessário que os dirigentes e os tomadores de decisão estabeleçam as condições indispensáveis a fim de que a educação se oriente para a construção de uma maior equidade entre as sociedades.

A mobilização de alunos, professores, escolas e comunidades para encarar os desafios sociais e ambientais é passo indispensável para a superação da atual crise.

Desafios e esperança no mundo árabe

Uma das personalidades mundiais envolvidas na disseminação da Educação para o Desenvolvimento Sustentável, a rainha Rania, da Jordânia, fala a seguir sobre as perspectivas da implantação desses conceitos em seu país e no mundo árabe. 
"A EDS tornou-se um imperativo tanto na Jordânia quanto nos outros países árabes. Embora tenha deixado de ser uma abstração, o desenvolvimento sustentável ainda não faz parte dos hábitos adquiridos da população. Temos de prosseguir a sensibilização nas escolas e universidades, assim como no âmago dos setores público e privado, se quisermos tirar o máximo proveito de nossos preciosos recursos naturais e oferecer um futuro mais promissor a nossos jovens. Para seu desenvolver, o mundo árabe tem de enfrentar desafios gigantescos: 5,7 milhões de nossas crianças estão fora da escola e 8,9 milhões de jovens são analfabetos. Além disso, somente um em cada quatro jovens tem emprego. Cerca de 60% dos habitantes de nossa região têm menos de 30 anos, número que se eleva a 70 milhões de jovens no mundo árabe. Essa faixa da população precisa de nossa ajuda a fim de se preparar para a vida adulta. Isso significa que, desde agora, devemos criar postos de trabalho; esses jovens devem adquirir competências e ferramentas, a fim de se tornar competitivos em nível regional e mundial. Em nossa opinião, a pedra angular desse processo é a EDS. Estou satisfeita com os progressos já realizados nesse domínio. Em 2008, alguns empresários criaram o Grupo dos Dirigentes Árabes em Favor do Desenvolvimento Sustentável, cuja presidência tenho a honra de ocupar. Além de publicarem relatórios sobre o desenvolvimento sustentável e mobilizarem a sociedade civil e outros empresários, seus membros orientaram sua atividade de modo a promover a vitalidade econômica, a integridade ecológica e a equidade social. Esses pioneiros nos mostram o caminho a seguir, mas ainda nos resta percorrer um longo trajeto."

Fonte: revistaplaneta

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