É uma educação destinada a preparar o futuro. Ela pretende nos tornar capazes de enfrentar os principais desafios da atualidade: a proteção ao meio ambiente, o respeito pela biodiversidade e a defesa dos direitos humanos.
Há pouco mais de 20 anos, a Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento lançava um apelo para que fosse adotado um "modo de desenvolvimento suscetível de responder às necessidades do presente sem comprometer a capacidade de resposta das gerações futuras diante de seus próprios problemas". Assim, encontrava-se resumida a essência do desenvolvimento sustentável: uma visão de longo prazo que nos incentiva a assumir nossas responsabilidades no presente e, ao mesmo tempo, no futuro.
A EDUCAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL (EDS) FAZ SOBRESSAÍREM AS NOÇÕES DE PAZ, IGUALDADE E RESPEITO PELOS OUTROS, ASSIM COMO PELOS AMBIENTES NATURAL E SOCIALEssa tomada de consciência levou uma boa parte dos Estados membros a adotar, em 2000, os oito Objetivos do Milênio para o Desenvolvimento, que visam erradicar a pobreza extrema e a fome, melhorar a saúde da mãe e da criança, combater o HIV e a Aids, concretizar o ensino primário para todos, promover a igualdade entre os sexos e garantir um meio ambiente sustentável. Ora, estamos convencidos de que, sem o apoio da educação, nenhum desses objetivos será alcançado; por isso, em 2005, procedeu-se ao lançamento da Década das Nações Unidas para a Educação em favor do Desenvolvimento Sustentável (DEDS).
A EDS é uma proposta que busca preparar os estudantes das mais variadas latitudes para os grandes desafios contemporâneos, integrando as dimensões social, econômica, ambiental e cultural do desenvolvimento.
As bases para salvar o Yang-tse
Apesar de fornecer 40% dos cereais produzidos na China, 33% do algodão, 48% dos peixes de água doce e 40% da produção industrial do país, a bacia do rio Yang-tse também concentra 60% da poluição nacional, o que a torna, segundo o Instituto Shangri-la para Comunidades Sustentáveis (Sisc), a primeira fonte individual de poluição do Pacífico. Um projeto de avaliação das águas da bacia, monitorado pelo Sisc em parceria com o Ministério da Educação chinês e a Unesco, mobilizou em 2008 mais de 50 mil alunos nas 27 escolas primárias e secundárias de Sichuan (uma das províncias cortadas pelo rio) e das vizinhas Qinghai e Yunnan, assim como em Xangai, megalópole ao sul do estuário do Yang-tse.
Sob orientação dos professores, as crianças analisaram pela primeira vez na vida a qualidade da água. Resultado: índices de poluição alarmantes em vários pontos dessa região. Em reação a isso, alunos de Piankou (Sichuan) escreveram às autoridades municipais para propor uma gestão "mais científica" das 15 lixeiras das duas grandes artérias dessa cidade de 6.600 habitantes e a criação de um serviço moderno de coleta de lixo. Para surpresa geral, a prefeitura não só apoiou as propostas como também considerou a possibilidade de construir uma usina de tratamento das águas usadas, a fim de preservar o ecossistema. Os alunos distribuíram então um questionário à população sobre as medidas antipoluentes, que foram apoiadas por 89% dos moradores.
"Esse projeto lançou as bases de um plano de saneamento da bacia do Yang-tse, permitindo também que, em parte, os alunos se livrassem do peso dos exames", comemora Fu Zhiping, professor de ecologia na Escola Normal Superior de Mianyang (Sichuan).O novo modelo de educação torna os estudantes conscientes de sua interdependência em relação aos outros seres e à natureza.
Efetivamente, a EDS reorienta o aprendizado em vários níveis: em primeiro lugar, exige uma abordagem interdisciplinar, integrando as dimensões social, ambiental, econômica e cultural do desenvolvimento, assim como levando-nos a tomar consciência de nossa interdependência em relação às outras pessoas, ao mundo circundante e à natureza. Desse modo, ela pretende nos tornar capazes de enfrentar desafios da atua lidade, tais como proteção ao meio ambiente, respeito pela biodiversidade e defesa dos direitos humanos. Ela facilita, também, o desenvolvimento tanto do pensamento crítico quanto da capacidade de decisão e de resolução de problemas, ao mesmo tempo que incentiva o diálogo, o trabalho em equipe e o espírito de iniciativa. Por último - e este é, sem dúvida, o aspecto mais importante -, ela faz sobressaírem as noções de paz, igualdade e respeito pelos outros, assim como pelos ambientes natural e social. Em outras palavras, ela visa nos dar autonomia com a oferta de conhecimentos, competências e valores que façam de nós verdadeiros agentes da mudança.
A Conferência Mundial da Unesco sobre a Educação em Favor do Desenvolvimento Sustentável, realizada em Bonn (Alemanha), de 31 de março a 2 de abril deste ano, mostrou que numerosos países já implementaram quadros estratégicos inovadores em favor da EDS. A Década incentivou os países a repensar os objetivos da educação, os conteúdos dos programas escolares e as práticas pedagógicas em complementaridade com os esforços despendidos para realizar o Educação para Todos (EPT).
A Década tem engendrado uma série de iniciativas e de projetos que colocam em prática o EDS tanto no âmbito escolar quanto no extraescolar. Apesar disso, os progressos permanecem desiguais e devemos perseverar na sensibilização do público em geral. Hoje, devemos juntar nossas energias para que a EDS seja estabelecida como linha diretriz que permita melhorar a pertinência e a qualidade da educação graças ao compromisso de dirigentes políticos, de estabelecimentos de formação dos docentes, de universidades e de outros importantes parceiros. Devemos, igualmente, tirar proveito de todas as oportunidades para insistir sobre a centralidade da EDS.
A pedagogia das lonas verdes na Bolívia
A Bolívia possui uma das mais elevadas taxas de desmatamento do planeta. Uma intensa migração interna, direcionada para as terras férteis das planícies, e a ausência do tema meio ambiente no programa escolar boliviano são fortes obstáculos ao desenvolvimento sustentável. A fim de sensibilizar as populações para esse problema, a sucursal boliviana da organização Conservação Internacional (CI) promove uma pedagogia alternativa, baseada em atividades lúdicas.
Sob grandes toldos verdes, crianças com idades entre 6 e 11 anos veem espetáculos de marionetes e participam de jogos sobre a poluição e o meio ambiente, enquanto adultos observam exposições de cartazes sobre o tema. À noite, peças de teatro são encenadas nesses locais por jovens da comunidade, com base em textos escritos por eles próprios a partir de sugestões dos professores do programa. Lançado em 2000, o programa Lonas Verdes envolve 20 toldos, que já visitaram mais de cem comunidades indígenas situadas em regiões de grande biodiversidade. Promovido e administrado pela CI Bolívia e pela Associação Boliviana para a Conservação (Trópico), dispõe, para cada comunidade, de 15 pessoas - agrônomos, biólogos, guardas-florestais, professores e especialistas em comunicação -, na maioria voluntários. O projeto recebe uma verba anual de US$ 30 mil e é financiado pela Agência Norte-Americana para o Desenvolvimento Internacional (Said) e pelo Serviço Nacional dos Parques Protegidos (Sernap).
"São os alunos, professores e guardas-florestais da região que decidem os mitos, as histórias e os desenhos a serem usados nos materiais educativos", afirma Eduardo Forno, diretor da CI Bolívia e iniciador do projeto. "Em seguida, antes de serem distribuídos nas escolas, os jogos são fabricados na cidade por carpinteiros e artistas. A adequação do conteúdo é controlada por especialistas."A crise financeira e econômica nos induz a aplicá- la sem mais tardar. Não conseguiremos reduzir a pobreza e construir sociedades mais equitativas, duradouras e focalizadas na paz se não dotarmos os indivíduos, em todas as épocas da vida, com conhecimentos, competências e valores que lhes permitam informar-se e tomar decisões de maneira responsável. Uma educação de qualidade que facilite a tomada de consciência, a abertura, a solidariedade e a responsabilidade deve fazer parte de qualquer resposta à atual crise mundial.
A mobilização de alunos, professores, escolas e comunidades para enfrentar os desafios sociais e ambientais constitui o primeiro passo para superá-los. Mas, acima de tudo, é necessário que os dirigentes e os tomadores de decisão estabeleçam as condições indispensáveis a fim de que a educação se oriente para a construção de uma maior equidade entre as sociedades.
A mobilização de alunos, professores, escolas e comunidades para encarar os desafios sociais e ambientais é passo indispensável para a superação da atual crise.
Desafios e esperança no mundo árabe
Uma das personalidades mundiais envolvidas na disseminação da Educação para o Desenvolvimento Sustentável, a rainha Rania, da Jordânia, fala a seguir sobre as perspectivas da implantação desses conceitos em seu país e no mundo árabe.
"A EDS tornou-se um imperativo tanto na Jordânia quanto nos outros países árabes. Embora tenha deixado de ser uma abstração, o desenvolvimento sustentável ainda não faz parte dos hábitos adquiridos da população. Temos de prosseguir a sensibilização nas escolas e universidades, assim como no âmago dos setores público e privado, se quisermos tirar o máximo proveito de nossos preciosos recursos naturais e oferecer um futuro mais promissor a nossos jovens. Para seu desenvolver, o mundo árabe tem de enfrentar desafios gigantescos: 5,7 milhões de nossas crianças estão fora da escola e 8,9 milhões de jovens são analfabetos. Além disso, somente um em cada quatro jovens tem emprego. Cerca de 60% dos habitantes de nossa região têm menos de 30 anos, número que se eleva a 70 milhões de jovens no mundo árabe. Essa faixa da população precisa de nossa ajuda a fim de se preparar para a vida adulta. Isso significa que, desde agora, devemos criar postos de trabalho; esses jovens devem adquirir competências e ferramentas, a fim de se tornar competitivos em nível regional e mundial. Em nossa opinião, a pedra angular desse processo é a EDS. Estou satisfeita com os progressos já realizados nesse domínio. Em 2008, alguns empresários criaram o Grupo dos Dirigentes Árabes em Favor do Desenvolvimento Sustentável, cuja presidência tenho a honra de ocupar. Além de publicarem relatórios sobre o desenvolvimento sustentável e mobilizarem a sociedade civil e outros empresários, seus membros orientaram sua atividade de modo a promover a vitalidade econômica, a integridade ecológica e a equidade social. Esses pioneiros nos mostram o caminho a seguir, mas ainda nos resta percorrer um longo trajeto."
Fonte: revistaplaneta
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